Mucosite
A mucosite é o processo inflamatório gerado pela citotoxicidade (toxicidade nas células) das terapias (radioterapia e ou quimioterapia) que acometem as mucosas da boca, faringe, laringe e esôfago dos pacientes oncológicos. Manifestam-se como lesões que gradativamente evoluem de pequenos eritemas e atrofia do epitélio para pseudomembranas grandes úlceras dolorosas.
Para o entendimento dessa lesão é necessário compreender o funcionamento dos tecidos epiteliais da mucosa oral antes do início dos tratamentos.
Temos em nossa cavidade oral uma variação de epitélios conforme a região e função que ele exerce. Nas mucosas mastigatórias e de revestimento nosso epitélio pode ser queratinizado ou não, a queratina serve como proteção para o tecido, por isso nas regiões com maior atrito pelos alimentos (palato duro e gengiva) há a presença dessa camada.
O Epitélio é organizado em camadas a mais superficial pode ter ou não queratina e é resultado da multiplicação das células da camada mais profunda, chamada camada basal, as quais se multiplicam e migram para esta região.
As células da camada basal ficam justapostas (unidas umas às outras) e se comunicam entre elas e com o tecido abaixo delas, o conjuntivo, para que ocorra a nutrição e a manutenção da grande capacidade mitótica (capacidade de multiplicação).
O tecido conjuntivo é responsável pela nutrição, proteção, comunicação e sustentação, nele estão presentes os vasos sanguíneos, nervos e células que farão o transporte de moléculas para manutenção do tecido epitelial.
Quadro do epitélio
Após entendermos o comportamento dos tecidos saudáveis, as alterações sofridas por eles nos tratamentos quimioterápicos e radioterápicos ficam mais facilmente entendidas.
Voltarei a explicar sobre a lesão bucal mais frequente nos pacientes em tratamento oncológico, a Mucosite.
É um processo gradativo e ocorre em etapas que são explicadas de acordo com Sonis et al em:
Resposta primária à injúria: envolve os efeitos que as alterações nos DNAs individuais de cada célula acarretam no tecido inteiro, nessa fase as células da camada basal (mais profunda) estão danificadas irreversivelmente e não conseguem se multiplicar, então o epitélio não consegue se refazer.
Amplificação de Sinal: como dito anteriormente as células do tecido epitelial comunicam-se com o tecido conjuntivo, como houve danos teciduais irreversíveis, as células de defesa presentes produzem citocinas (são moléculas que avisam as células de defesa do nosso corpo) de forma intensa atraindo ainda mais células inflamatórias intensificando ainda mais a liberação das citoxinas, potencializando a apoptose e causando edema, eritema, dor e sintomas inflamatórios.
Ulceração: após a grande quantidade morte celular e com a exacerbação do processo inflamatório ocorre a descontinuidade do tecido epitelial expondo o tecido conjuntivo, onde estão as terminações nervosas, por isso a dor é intensa.
A superfície necrótica da ulcera é um local propício para infecções por microrganismos e no paciente em tratamento oncológico constitui um fator complicador importante pois pode evoluir para bacteremias e sepses já que no tecido conjuntivo estão os vasos sanguíneos com comunicação aos grandes vasos no nosso organismo.
Reparo: Ocorre espontaneamente, podendo ser acelerado principalmente por laser de baixa potência, no tecido conjuntivo há a formação de novos vasos sanguíneos(angiogênese) que farão a limpeza das células que sofreram apoptose, transporte de oxigênio e moléculas responsáveis pela nutrição das células, há multiplicação de células sadias e assim o epitélio aos poucos será remodelado e refeito.
Modelo Soni
Clinicamente, a mucosite inicia-se com eritema (mucosa vermelha) e atrofia na região (correspondem a fase de iniciação, resposta à injuria e amplificação de sinal) apresentando como sintomas além da mucosa eritematosa, leve desconforto e sensibilidade; em seguida pode evoluir para pseudomembranas ou diretamente para úlceras que ocorrem pela ruptura do tecido epitelial com exposição da camada do conjuntivo, onde estão os nervos e vasos que irrigam o tecido, por esse motivo geram muita dor, dificultam a mastigação, fonação e por consequência a nutrição reduzindo a qualidade de vida dos pacientes.
Essas úlceras estão localizadas no epitélio não queratinizado, portanto não haverá lesões por mucosite em gengiva inserida nem em palato duro (céu da boca), esse dado é fundamental para os diagnósticos diferenciais de lesões por fungos e vírus.
Conforme a presença de lesões e o impacto que elas causam na alimentação dos pacientes a mucosite será classificada segundo a OMS (organização mundial de saúde) em:
Grau 0 ausência de lesões.
Grau 1 presença de eritema, com ou sem sintomatologia.
Grau 2 presença de ulceras, paciente tolera alimentação sólidas.
Grau 3 presença de Ulceras paciente toler apenas alimentos líquidos.
Grau 4 presenças de ulceras e paciente não tolera alimentação oral.
Tratamento
A terapia ideal para mucosite é a que previne e controla os eventos moleculares iniciais, evitando ao máximo as ulcerações, portanto os tratamentos preventivos com o dentista devem ser realizados antes de iniciarem as terapias antineoplásicas, faremos todos os procedimentos, orientações e acompanhamento necessários para minimizarmos o aparecimento e gravidade das lesões por mucosite.
Quando houver o aparecimento das lesões, os tratamentos para aceleração do processo inflamatório e reparo, controle de infecções oportunista, redução de traumas deve ser instituído a fim de manter as funções vitais orais como: mastigação, fonação e deglutição, responsáveis pelo nosso estado nutricional.
O paciente oncológico está num momento de grande fragilidade e todo cuidado é necessário para que brevemente possa retornar a desempenhar essas funções.
Eu Mabel, sou cirurgiã dentista capacitada para acompanhar e intervir precocemente na prevenção e tratamento das lesões orais inerentes dos tratamentos antineoplásicos.
Meus atendimentos são realizados em ambulatório(consultório), âmbito hospitalar e domicílio. Aguardo você para juntos vencermos essa batalha!